domingo, 16 de dezembro de 2007

Travesseiro da Felicidade

Pouso minha cabeça
No travesseiro da felicidade
Enquanto me afagam
As mãos da tranqüilidade

Vejo o futuro
Na expressão da tua face
Enquanto resta o mundo
Para viver a eternidade

E a paz que eu tanto quis para mim
Agora chega através de ti
Parece sonho, parece não ter fim
A felicidade que você trouxe para mim

São Luís - Maranhão
18/08/03

E agora?

O que hei de fazer agora?
Sem rumo, completamente só
A cabeça em parafuso
A vida sem rumo
A poesia ainda é o que me consola
De repente tudo virou fumaça
Um olhar perdido no tempo
Uma dor no peito de um coração que chora
Ainda procuro nas noites uma explicação
E o pensamento que não me deixa dormir
Procura incessante uma resposta
Bem feito para mim que fui tão ruim
Por não dar valor ao que ainda é mais precioso
Palavras perdidas ditas à toa
Por quê?

São Luís - Maranhão
09.09.02

Meu amigo Carlos

Meu amigo Carlos me consola:
Calma André, calma André
A dor que sentes é igual ao amor que sentes
E é porque sentes que teu coração está em flagelos
E ainda que negues a dor vai persistir
Porque és verdadeiro e não tens medo do obscuro
E ainda que passe muito tempo
E que renegues este sentimento
Lá no fundo ainda vai haver dor
Mas calma André, muita calma André
Pois isto não será eternamente sofrimento
É só um momento. E quantos já não foram?
Não escrevi com linhas inimagináveis toda esta angústia?
E não dei respostas que te acalmaram e
Suposições que te aumentaram as dúvidas?
Porém, calma André,
A dor dos que amam é o combustível que alimenta a alma dos que vivem para esta luta
E é a força de quem acredita em algo maior do que a poesia pode fornecer
E é o necessário para a prova de que, superada,
A vida é um gozo eterno dentro do pequeno instante.

São Luís - Maranhão
12.03.03

Golpe Fatal

Foi um tiro no peito, quase um golpe fatal
Senti o coração afogando
A perna tremer, o chão estremecer, a visão escurecer
Fiquei parado, pasmo, sem nada a dizer
Vi fúria em seus olhos e muita mágoa
Tapei os ouvidos para não enlouquecer
A dor foi tomando conta dos meus sentidos
Me senti um menino sem nada poder fazer
Desceu uma lágrima. Uma não, centenas
E aos poucos fui caindo
O cheiro da terra entrou rasgando em minhas narinas
Agora tão perto do fim parei e pensei
Momentos tão claros e outros confusos
Tentava entender mas agora já não havia tempo
Era chegada a hora e a cada minuto, ainda mais, a fenda se abria
A dor insuportável, a agonia, a lágrima, o suor
E antes de padecer ainda pude ouvi-la dizer:
-Adeus.

São Luís - Maranhão
02.09.02

Dia de São João

No dia de São João morreu a inspiração
Havia preparado com amor uma declaração
Poesia pura, cada verso pensado e repensado
Mas um momento, apenas um, roubou-me a inspiração
Era dia de São João
Ali parada, a parada, era do boi de matraca
Foi tocada de forma errada
Escapuliu da mão, todo verso, toda poesia
Acabou a inspiração. Meu São João.
Tirou de mim a paz que resplandecia
Apenas um breve momento: virou neve todo meu corpo
De repente toda vontade se esvaiu
Foi a morte do tom poético que a vida naquele momento vivia
Foi a morte de tudo que de bonito existia
Morrem as palavras para eu não morrer de desgosto.
Morre meu São João.

São Luís - Maranhão
25/06/03

Contrário

Sinto sua falta, mesmo quando não deveria
Não entendo porquê de tão bonito você viu tão feio
E o que era perfeito agora está desfeito
Sobra apenas dor e uma grande agonia

Sinto sua falta, mesmo quando não deveria
Até tento esquecer, matar, mas não consigo
Acho que amar é meu destino
Até quando a tristeza mata de repente minha alegria

Sinto sua falta mesmo, mas não deveria

São Luís - Maranhão
28/08/2003

Só, Sozinho

Estou me sentindo só, sozinho
Nem amigos, nem colegas, nem inimigos
Ninguém, ninguém
O peito rasgado
No coração cravadas as unhas do rancor
Procurando algo no escuro, perdido, sem rumo, sem sentido
Sozinho.
Queria anoitecer e não amanhecer
Me sinto só, sozinho
Nem pai, nem mãe, nem vizinho
Só um poema para consolar e dar abrigo.

São Luís - Maranhão
12/08/2003

Ironia

Meu falso amigo me cortejou com um falso abraço
Eu, como falso entendedor, lhe retribui com um falso sorriso
Uma conversa iniciou-se e falsamente nos entendemos
E fingimos que a noite era única
Que a vida era bela, que gostávamos, sem saber, das mesmas coisas

Quem de fora estava tentava entender sem conseguir
A verdadeira falsidade dos verdadeiros falsos amigos
Como duas pessoas tão diferentes poderiam se suportar?
E, principalmente, como a falsidade os unia?

Estávamos nós a discutir diferenças
A criticar pessoas, atitudes, pensamentos
A criticar momentos e no mais quem nos criticava
Procurávamos na falsidade, a verdade

Ao final de tanto fingimento nos cortejamos com um falso abraço
E o falso aperto de mão celebrou a verdadeira amizade
Onde cada qual é qual e por mais que finjamos não saber
Todos são ao mesmo tempo falsos e verdadeiros
Tudo é uma questão de aceitar a verdadeira face dos seres humanos

São Luís - Maranhão
30.10.02

Noite na Praia Grande

Então estou sentado na rua do Trapiche
E as pessoas vão, as pessoas vem
Os casais abraçados, outros de mãos dadas
O som da Marisa se confundindo com o do Zé
Que do outro lado incita todos para a grande festa.
Tem ainda os que conversam alto
E a moça põe a mão no rosto para cobrir sua enorme gargalhada
Quantos mundos
Permaneço sentado, sozinho
Um olhar na rua outro no papel
Um descarrego de pensamentos
Pensamentos, pensamentos, pensamentos
Gil me interrompe à procura de Didi
Quem é Didi? Mais um mundo
As pessoas levantam-se dando lugar a outras
Permaneço atordoado com minha solidão
Se é depressão, vai ter que passar
Uma pausa para o lanche.
O olhar acompanha os lábios dos acompanhados
O que será que tanto dizem?
Será que há alguém perguntando: “o que ele tanto escreve?”
O tempo vai passando
Mas não há cura para tanta desordem no meu coração.

São Luís - Maranhão
17.04.03

Morra Tristeza

E é tudo uma grande confusão dentro de mim
E eu que pensava que já entendia tudo
Minhas teorias, minha ideologia... que bobagem
Tudo o que eu tinha dentro de mim...
Não entendo porque choro
Veja, construi tudo, mas uma parte de mim morreu: minha outra parte
Agora procura outra parte ou nenhuma
É tudo veneno, veneno, veneno
Aos poucos também estou morrendo
Um quarto de vida e estou morrendo aos poucos
E o tudo que devia estar belo está triste, feio
Depressão na estrada mais linda que houve
E se eu ainda fosse criança...
Que tristeza...
QUE MORRA ESTA TRISTEZA ANTES QUE EU MORRA!!!
Bem grande para que nunca seja esquecido.

São Luís - Maranhão
29.04.03

E o tempo vai passando...

E aqui dentro deste quarto o tempo vai passando
E vai passando, passando, passando...
Tento por um instante esquecer, mas como?
Até a tentativa é prova do meu sofrimento
Tem um bichinho que me consola, tem seu nome
Uma volta na Praia Grande: tentativa inútil
Por todos os lados imagens que aumentam a dor
Os casais abraçados me apertam com força o peito
Minha tontura é um tormento causado por sua ausência
E te mato em silêncio, te afogo em minhas lágrimas
Quero que sinta a angústia que sinto neste exato momento
E o tempo passa. Passa... passa...
Nada muda.
Até os versos vão caindo na mesmice porque o tempo passa, nada muda
Nenhuma surpresa para acabar as dúvidas
Até quis deixar de crer que ela possa acontecer
Mas não mando mais em mim e sim meu coração
Ainda há esperança, esperança que só ele, coitado, crê

E aqui dentro deste quarto o tempo vai passando
E vai passando, passando, passando...
E continuo tentando entender, tentando esquecer, tentando não querer, mas como?
Até que os olhos fatigados fecham e durmo
Os sonhos saem a procura, se realizam
Nem gozei e estou de volta a realidade
De volta ao mundo e começa tudo outra vez:
O tempo passa... passa... passa...

São Luís - Maranhão
10.03.03

Dia Comum

Um dia de Quarta, um dia comum
Um mês de dezembro, a vida comum
O vento que passa, a cabeleira que avoa
A cadeira que balança, a voz que não cala
O lixo que fede, a menina ao lado perfumada
As pessoas que chegam, as pessoas que partem
As nuvens negras, as nuvens brancas demais
A doença que mata, a cura que salva
O silêncio, a fala
O escuro, a lâmpada
A distância, os meios de transporte
A importância, o reconhecimento
O choro, o riso
A solidão, o amigo
A noite, o dia
O azar, a sorte
O inimigo, o perdão
A fome, o pão,
A vida: dia comum.

São Luís - Maranhão
18.12.02

Despertar de São João

E no olhar resgata o lume
E na vida a esperança
No peio o coração volta a bater
Corre novamente sangue na veia
De luz se nutre a alma
A esperança reencontra sua rota
Bem acompanhada pela música
Sentimento confortado
Paz, paz, paz
Dorme tranqüilo o menino aborrecido
Desperta o homem leve
Dorme tranqüila a menina perdida
Desperta o coração livre
Dorme tranqüila a ansiedade
Desperta a rosa no quintal
Dorme tranqüilo o mal
Despertam os pássaros
Abrem-se os olhos da Natureza
Pavimentam-se os caminhos
Enche-se de luz a divina mãe, Terra.
Despertam-se todos os seres para brincar.
É São João.

São Luís - Maranhão
20.06.03

Desejo

Não quero que o amor transforme-se em ódio
Nem quero que as lágrimas sejam de dor
Não quero que o desespero tome conta dos momentos
Menos ainda a morte uma fuga

Quero que lágrimas sejam de alegria
Que a ansiedade seja pela espera
Que o desespero seja saudade
E que a dor seja por alguém que já partiu

Quero um momento único em cada minuto
Que eu possa ser a direção quando esta estiver perdida
Que o simples pensamento seja cura
E que não haja mais sofrimento

Enfim ser feliz por estar vivo
E espalhar sobre o mundo a alegria num canto
Procurar o que há de melhor no fundo
E ser por inteiro de alguém, num simples encanto

São Luís - Maranhão
31.01.03

Ah!!! Cartola...

Quis fazer uma canção ou uma poesia
Cartola interviu no momento
De repente falou meus pensamentos
Que sujeitinho intrometido esse, não?
Roubou-me as palavras e cantou, talvez,
(não quero me entregar)
Minhas palavras
Ah sujeito, eu te pego!
Olha só:
“Preste atenção querida: de cada amor tu herdarás só o cinismo.
Quando notares estás a beira do abismo. Abismo que cavastes com teus pés”.
Tá vendo que sujeitinho!
(Queria estar por um momento com ele para me dizer como chegou a tão distinto pensamento).
Ah Cartola, dizes o quê não tenho coragem de dizer
Tá vendo amor! Vou calar.
Esse sujeitinho me deixa sem ter o que falar.

São Luís - Maranhão
01/08/03

Ilha

Agora estou na ilha, meu Amor!
Veja só como tudo mudou
A vida é mais simples, tudo é mais alegre
E de repente até já sei quem sou
O passado que ficou para trás
Agora se realiza, é verdade
Tudo que desejei aconteceu
Como é bom acreditar e fazer acontecer
Não sei nem como tanto tempo esperei
Mas gora estou na ilha, meu amor!
Vendo esta gente que anda com olhar perdido
Gente que vai e que vem e
Que mesmo esquece o tesouro que têm
E se soubessem, ah se soubessem
Da felicidade que aqui toma conta de mim
Não largo tudo isto por nada
Cada rua há de fazer história através dos meus passos
Porque sei quanto valor tudo isto têm
Agora estou na ilha meu amor
E não deixo nunca mais, por nada,
Nem por ninguém!
Ah! Estou na ilha meu amor
E é inexplicável esta alegria que me invade
O sorriso bobo o tempo todo e no peito
Um coração apaixonado que junto com a terra bate
E uma sensação de não precisar de ninguém
Tão grande cumplicidade
É porque sei que esta ilha me ama também!

São Luís - Maranhão
02.09.02